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Foto do escritorJosé Sanchez

Novos Tempos

Atualizado: 24 de out. de 2022

Gostaria muito de fazer um post falando sobre as maravilhas que aguardam a pessoa que se dedicar ao esmero das técnicas, do sucesso que lhes reserva o destino, da felicidade etc. Não posso. O clima reinante em nosso ethos social em face das eleições que se avizinham não está nada favorável.




Pensei em falar sobre minha trajetória profissional, de meus erros e acertos no mundo empresarial. Também não posso. Frente ao que aí se anuncia, de um lado ou de outro, soaria como hipocrisia.


Como seres sociais que somos por natureza, é impossível não se deixar contaminar pelo clima instaurado no “inconsciente coletivo” de todos nós. Assim é que resolvi tratar do tema da saúde mental e moral dos que trabalham, ao menos como vejo o problema.

Conversando recentemente sobre essa questão com o renomado Professor Mauricio Serafim da UDESC, ele disse: “O contexto atual das organizações é marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. O ser humano está inserido nesse contexto, porque dele participa. Por outro lado, é notável o esforço que vem sendo empreendido no sentido de dotar de ética as empresas, enquanto organismos coletivos que funcionam como seres vivos que se pretendem não só adaptativos, mas principalmente proativos e inteligentes.” E por inteligência devemos entender a “adequação do intelecto à coisa.”, como ensinou São Tomas de Aquino.


Desse modo, a adequação de nosso intelecto às coisas que aí estão é que pode definir se somos ou não inteligentes, especialmente no plano ético. E isso serve não só para os fins do trabalho, senão para toda a vida.


Segundo o Filósofo Edgard Morin, “A história se repete. O previsível cede lugar ao inesperado. Pensamos viver certezas, com estatísticas, previsões, métodos, com a ideia de que tudo era estável, quando já tudo ruía ao nosso entorno. Não nos demos conta. Precisamos aprender a viver com a incerteza, isto é, ter a coragem de enfrentar, de estar pronto para resistir às forças negativas. A crise nos torna mais loucos e mais sábios.”


Talvez a principal lição que se pode tomar desses novos tempos é que não há um método válido para todos os empreendedores, eis que cada um vive sua realidade como indivíduo que sofre na sua dimensão pessoal os efeitos da crise que se instalou para todos. Isto é, o deserto em que estamos metidos é coletivo, mas o oásis é individual. Em outras palavras, o melhor método consiste em identificar e fortalecer as potencias da organização e de seus líderes, tornando-os capazes de suportar a travessia com segurança.


Em todos os momentos de crise por que passou a humanidade, foram os pioneiros que, valendo-se de coragem e criatividade, deixaram como herança os métodos (caminhos) a serem trilhados, dos quais se serviram os que vieram depois deles. Nosso momento atual pede criatividade e fortaleza para as mudanças necessárias. E, como todos sabemos, não há possibilidade de progresso no empreendedorismo sem criatividade e coragem.


O ato de criar se dá com a percepção do problema no presente ou no futuro. Se sua criatividade for para resolver um problema no momento presente, você é criativo, se for útil para os pósteros, você é visionário. Criatividade é, pois, a emergência de algo novo, único e original. É diferente de método. Método tem a ver com o já conhecido, um caminho por onde todos devemos trilhar. Copiar um método (modelo) consagrado é quase uma obrigação, copiar uma obra de arte é pirataria. Eis a importância do ato criativo!


Arte vem de artifício, isto é, aquilo que é feito pelo homem. Não é natural. Por isso mesmo, de um modo ou de outro, todos nós somos artífices ou artesãos em potência e ato. Alguns poucos conseguem ser artistas.

Você, ao criar sua empresa, trouxe à existência um ser que antes não existia. Esse ser nasceu de um desejo seu a partir de uma oportunidade que você identificou no mercado, uma demanda não suprida ou mal suprida por seus concorrentes, logo, sua empresa tem um fim, foi pra atender a esse propósito que você a criou. Esse seu desejo tomou forma: tem um nome, um endereço, um contrato social, um CNPJ, ou seja, é uma pessoa. Só que jurídica.


E mais. Sua empresa é agora um ser que tem uma identidade com a qual se apresenta mercado. Ela adquiriu uma personalidade (do grego persona). E essa personalidade, como ocorre com todos os seres, busca se destacar na multidão, quer ser diferente, fazer diferente, fazer melhor. Como qualquer ente, ela se relaciona com outros entes: clientes, concorrentes, fisco, colaboradores...


E, à medida que ela cumpre seus primeiros propósitos, você, como um pai orgulhoso dos feitos do filho, se sente realizado e feliz. Isso se chama feed-back, que é uma resposta dada pela realidade, ou seja, o que foi um simples desejo, hoje se confirma no plano real, no concreto.


À medida que sua empresa vai conquistando novos clientes, você nota que precisa estruturá-la melhor para que ela continue crescendo, você a alimenta com mais recursos para atingir novos desafios. Contrata outras pessoas para ajudá-lo a gerir o negócio cuja prosperidade já é notável.


Só que o progresso material de sua empresa atrai concorrentes, o que o impulsiona a se movimentar na direção de manter-se em destaque e, se possível, continuar crescendo. Se você ficar parado ante o problema, poderá ser superado. Movimento é vida.


Todas as relações cresceram em complexidade. Os métodos já não surtem efeito. “É preciso pensar fora da caixinha” ... “Precisamos nos reinventar” ... “Inovação” etc. É o que se escuta por todos os lados.


Mas como se reinventar a partir do conhecido se o conhecido está passando por profundas transformações? O feedback que recebemos hoje não é confiável. O nome disso é caos, realidade distópica, é o aforismo em moda hoje em dia. Distopia é sinônimo de incerteza, de desespero.


Bem, se o que conheço e domino não é mais suficiente, preciso me movimentar na direção de novos conhecimentos.

Se olharmos ao redor, veremos que há um crescimento exponencial no segmento EAD (ensino a distância). São pessoas que estão buscando mais conhecimento como um meio de se reinventarem. Sempre foi assim, e sempre será. Tornar conhecido o desconhecido é a marcha do progresso. São os novos conhecimentos que, incorporados à experiência, produzem “insights”. Todos intuímos isso de um modo ou de outro. Insight pode ser traduzido por “eureka”. Eureka é uma palavra que usamos ante a surpresa e/ou o maravilhamento que nos acomete quando descobrimos algo. E esse algo nos põe novamente em movimento, é como uma luz que ilumina a escuridão. Um oásis, por assim dizer. A partir desse ponto, pomos em ação todas as nossas faculdades: construímos hipóteses, testamos, repetimos, e, uma vez verificada a pertinência do achado, comunicamos seu resultado no plano da realidade concreta.


O processo criativo se reinicia. Você novamente é chamado de visionário, de criativo.

Quero chamar a atenção aqui para uma importante peculiaridade. Percebam que esse achado a que damos o nome de ato de criação não estava em nenhum lugar, não era um simples objeto. Foi preciso que um sujeito, você, movido pela curiosidade que os novos conhecimentos lhe suplementaram, se encontrassem. Esse encontro, essa RELAÇÃO, é que provoca o que os psicólogos chamam de expansão de consciência, e que os cientistas chamam eureka. Consciência é relação. Estamos o tempo todo em permanente relação, seja com outros, seja com a gente mesmo.


Você se conhece? Sabe onde está?


O autoconhecimento pode ser um interessante ponto de partida. Conhecer-se melhor permite que nos relacionemos melhor com a gente mesmo. O Filósofo Sócrates é reconhecido por uma frase pronunciada pela boca de Platão no ano de 463 antes de Cristo: “RECONHEÇA-TE”. Frase atualíssima, penso eu. Urge conhecermo-nos! Até porque, sem sabermos o ponto onde estamos, é impossível traçar qualquer destino. Não podemos chamar um UBER somente informando ao motorista o destino, sem origem.




José Sanchez é Psicólogo, Psicanalista e Empreendedor



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