Pequenas reflexões sobre uma transição de carreira que está na moda
Essa é uma conversa muito frequente que tenho com as pessoas que procuram a Leading.Zone, tanto como clientes quanto em nossa plataforma de voluntariado, o HelpingHands. Vale a pena ponderar que a vida corporativa sempre foi muito desafiadora e estressante, porém não mais que os dias de quem cria e mantém seu próprio negócio. No entanto, depois de 2 anos de pandemia, o bem-estar no mundo das grandes empresas parece ter contraído algumas patologias adicionais, para as quais não há previsão de vacinas. É aí que muita gente começa a pensar em demitir seus chefes e viver de suas próprias aspirações, rumo ao empreendedorismo. Se é o seu caso, saiba que você tem meu apoio.
Tendo empreendido em minha carreira em dois momentos distintos durante mais de cinco anos, já me atrevo a dar opinião a quem pede. Nessas duas vezes conheci a dificuldade do (re)começo, as incertezas do sucesso e felizmente apreciei o doce sabor da chegada dos negócios recorrentes, levando o empreendimento a crescer com mais segurança e de forma sustentável. Longe de ser um especialista no assunto, meu primeiro conselho é simples (sublinhe a palavra "simples", voltaremos a ela): empreenda usando bem os joelhos ralados que você acumulou até aqui. E não se esqueça das vezes em que capotou por entrar com uma velocidade incompatível nas curvas da vida e da carreira. Seus erros valem mais do que você pensa. Acredite: é possível que vários deles sejam muito mais preciosos do que os seus melhores acertos.
Em geral, uma carreira bem-sucedida em uma grande empresa proporciona experiências muito úteis aos novos desafios na gestão de seu negócio individual. Liderança, tratamento de ambiguidades, gestão de stakeholders e boas práticas de governança corporativa estão entre os ensinamentos que você mais irá reutilizar nessa nova etapa profissional. Há, por outro lado, um elemento que merece muito cuidado quando começamos um negócio próprio: os recursos a sua disposição serão mais escassos agora do que eram no ambiente corporativo e você deverá administrá-los com muito mais proximidade do que jamais fez. Falo não só dos óbvios recursos humanos e financeiros, mas também e principalmente do seu tempo. Crie um negócio já apoiado pela transformação digital reduzindo assim seus esforços manuais como, por exemplo, fazer a gestão de relacionamento com seus clientes. Há vários sistemas de CRM disponíveis e com bom custo-benefício. Mas escolha o mais indicado para o nicho em que você vai atuar, não necessariamente o mais barato.
Minha experiência de carreira foi de 85% em grandes empresas e devo muito a esse fato. Nesse ambiente, aprendemos a resolver problemas complexos utilizando soluções igualmente complexas. Porém, como novos empreendedores, devemos buscar a simplicidade acima de tudo. Quando somos nossos próprios chefes a complexidade deve ser um ingrediente raro, reservado para ocasiões especiais, garantindo que seu uso será bem valorizado e adequadamente remunerado pelo cliente final. Complexidade consome muitos recursos. Antes, durante e depois de seu uso. Não menosprezar esse pequeno detalhe vai economizar várias dores de cabeça no seu novo percurso.
E se você conseguiu chegar até aqui, percebeu que meu primeiro conselho foi na verdade o único que eu ousei compartilhar aqui: seus erros - os joelhos ralados e as capotagens - são o grande valor que você traz consigo. Reconheça, celebre e utilize plenamente esse estoque de capital intelectual que acumulou até chegar na decisão de empreender. Mas se você acha que nunca errou ou não costuma aprender com erros, então desejo que você tenha a sabedoria de continuar onde está: afinal, a vida corporativa muitas vezes ainda tolera quem não evolui com suas derrotas. Um direito não disponível aos empreendedores. Felizmente.
Marcelo Medeiros é fundador e CEO da Leading.Zone
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