
Venho aqui me despedir. De quem me fez tanto bem, afinal sobrevivi. Foi um ano difícil, nem preciso parar muito nesse ponto, até mesmo porque serei redundante, quase um clichê. Mas como já sabemos tudo que ele teve de ruim vou tentar ver o que ele me trouxe de bom. Trouxe realização de um sonho, e que sonho!
Trouxe proximidade, pé na areia, amizades virtuais, atendimentos online, valorizou o abraço e o som da risada. Redimensionou o tempo e as prioridades. Trouxe a admiração de ver minhas plantinhas crescerem. E a minha admiração e agradecimento pelas minhocas. O banho de mar de água gelada para lavar o corpo e a alma. A busca pela fé que nos momentos de questionamento ameaçava ir-se porta afora. E eu desesperada pedia pra ela ficar. Sem ela não sei viver. Declarava meu amor, admiração e respeito. Para fazê-la ficar. Sempre fica!
Meu fogão, a alma da minha cozinha se transformou em terapia. Passarinhos me ensinaram que tamanho não significa absolutamente nada. Com algumas gramas me deram lição de canto e encanto. Chamam minha atenção me tirando do torpor do desânimo, sinalizando de que esta tudo bem. Cada momento tem seu valor. Parece que dizem.
Vento, sempre amei o vento. Ana Terra, quando li na minha adolescência, ficou na minha memória pela descrição do vento nos pampas gaúchos. Consigo viajar no seu balanço pelo meu corpo. Me entrego totalmente a essa proximidade. E saio mais leve, acreditando nesse sopro sobre a minha caminhada. E como tenho vento por aqui!
2020 me trouxe a observação de tudo que eu já tinha, mas não via. Me trouxe a necessidade de rever as necessidades. Acentuou a saudade de quem eu amo e que está longe de mim. Do meu abraço, do meu olhar, do meu cuidado. Me trouxe outros que estavam longe e que agora estão perto. Mostrando novamente que tudo a seu tempo. Que assim como as estações e as fases da Lua, também somos de ciclos. Fechamos uns, abrimos outros.
Minha senha do celular dia 01/01/2020 foi colocada em 2020. Para homenagear um ano que estava nascendo e que eu sabia que seria muito especial. Não foi como eu planejei. Mas mantive a minha homenagem. Foi do jeito que tinha que ser.
Como nutricionista não posso deixar de fazer uma analogia com as histórias dos meus pacientes. Dieta é assim. Planejamos e o jantar desplaneja. Assim como a vida, nem sempre sai da forma como planejamos, porque tem vida própria, a nutrição também tem lá os seus caprichos e o seu jeito de ser. Tente entender e aceitar bater de frente jamais. Onde tem imposição terá resistência. Assim somos nós e o tempo. Nossa vida e nossos sonhos.
Quero agradecer 2020, por tudo que trouxe de ensinamentos. De perdas e ganhos, mostrando que cada batalha constrói uma guerra, que ainda não acabou. Não temos vencedores, temos nós, aprendendo a viver.
Quando fecharmos os olhos definitivamente, fazemos essa conta! Mas ainda não é o momento. Enquanto isso nos cabe ficar de olho no placar, diário, semanal, mensal e anual. E vamos seguindo.
Não vou homenagear 2021 na senha do meu celular. Vou trocar! Aprendi a fechar muitas portas das casas por onde andei. Não sou muito apegada. Junto minhas coisas e vou para onde tenho que ir. Não sou de olhar para trás. Assim será com 2020. E que venha 2021 farei as honras de recebê-lo e é vida que segue. Normal! Com altos e baixos.

Iamara Seara Medeiros - iamara@nutrientesqueridos.com - www.leading.zone/iamaraseara
Comentarios