"Você é bonzinho demais para ser líder"
Eu já ouvi, tu já ouvistes, ela e ele já ouviram. A diferença está em quem acreditou (ou não) que ser bonzinho ou boazinha é obrigatoriamente uma desvantagem separando você do seu sucesso como líder. Eu escolhi não acreditar nisso e no artigo de hoje falo a quem já ouviu e infelizmente acreditou nesse desarranjo verbal de sete palavras. E também me dirijo a quem ainda não as ouviu, na esperança de que o conselho chegue a tempo: ignore todas as sete ou pelo menos as quatro últimas.
Mas não confunda as coisas: isso não significa ignorar quem falou. Não somente por respeito mas também porque essa é a primeira pergunta importante a ser feita: "quem disse?"
Muitas pessoas ouviram essa afirmação diretamente de interlocutores em posições hierárquicas superiores. Entender como esses líderes são avaliados por suas equipes nos ajuda a compreender a origem, o objetivo e principalmente a credibilidade que o comentário merece. Em uma conversa com uma Cliente que ouviu a frase de seu gestor direto, refletimos sobre a reputação dele: inspira admiração ou medo na equipe? Rapidamente chegamos a conclusão, através de situações ocorridas, de que a equipe dele não o reconhecia como um líder legítimo e que as interações com ele eram permeadas pelo medo de perder o emprego.
Vale tentar entender o modelo mental do(a) gestor(a) "anti-bonzinho". Normalmente, você é considerado(a) "bonzinho(boazinha) demais" e sua competência de liderança é condenada ao limbo se você:
- não tem que agir com truculência nem levantar a voz quando discorda de alguém de sua equipe. Ao contrário, trabalha a convergência das melhores ideias, enriquecendo opiniões para o bem de todos os envolvidos e o alcance dos seus objetivos
- não ameaça as pessoas para conseguir que elas façam o que você precisa, mesmo quando o prazo é apertado e as dificuldades são grandes. Em outras palavras, você realiza sem efeitos colaterais
- não fica duvidando e micro gerenciando profissionais experientes e que já deram provas de credibilidade em oportunidades anteriores. Você sabe que é uma decisão infeliz aprisionar talentos e experiência na gaiola da desconfiança
- não pede a mesma coisa para várias pessoas "só para garantir" que alguém responderá, porque sabe que basta pedir para a pessoa certa. Gerar trabalho duplicado proporciona um péssimo retorno sobre o investimento de tempo da equipe, além da entropia que causa na organização
- não tortura quem errou, censurando e constrangendo na frente de todos os colegas. Você tem consciência que espalhar o pavor de errar não aumenta o compromisso de acertar
- não precisa destruir uma pessoa só porque terá que demiti-la por desempenho insatisfatório. Você sabe que a demissão não é um juízo final para ninguém, mas sim uma vírgula na história profissional dos indivíduos
Conheço várias dezenas de líderes "bonzinhos" que alcançaram sucesso, para quem mando meu abraço, minha admiração. Mas também lembro de muitas centenas que se estabeleceram pelo medo, por que é muito mais fácil se esconder atrás do poder formal e suas retaliações do que inspirar a criação de resultados sustentáveis em um círculo virtuoso Sim, (lamentavelmente) você que ouviu a frase do título deste artigo representa uma minoria. Uma minoria que incomoda porque produz inveja ao saber construir sucesso pela escada certa, ainda que mais longa: através do respeito e da colaboração. Seus críticos via de regra serão aqueles que subiram pela escada oposta, a escada curta, pisando nas mãos, ombros e cabeças daqueles que estão tentando fazer da forma correta.
Portanto, não desista: se você ouvir as sete palavras da inveja, acelere sem moderação, mostrando àqueles que tentaram fazer de você uma liderança tóxica que ser "bonzinho" e liderar com sucesso definitivamente não são antagônicos.
Marcelo Medeiros é Fundador e CEO da Leading.Zone, uma plataforma de desenvolvimento de lideranças
Excelente artigo Marcelo! Talvez um dos desafios para o gestor com este perfil é equilibrar o foco nos resultados.