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Vou tentar.

Estamos, ou estávamos, acostumados a responder a algumas demandas com o famoso “Vou tentar”. Mas......

Aconteceu no início de 1992, final do século passado, ainda jovem, 33 anos, fui convocado para uma conversa com o diretor geral da empresa onde trabalhava (multinacional americana sonho de consumo da maior parte dos profissionais engenheiros eletricistas como eu).

Pouco mais de seis anos antes dessa conversa eu comemorava a minha contratação para atuar na engenharia de produtos. Desde então já havia assumido a Supervisão de PCP e a Coordenação de Projetos de Change Management (nessas etapas também aprendi bastante, contarei em outra oportunidade).

Ansioso para entender o objetivo da conversa com o diretor geral, a mente não parava, todos os tipos de pensamentos surgiram: seria alguma reclamação, algum projeto novo, algum processo ou equipamento novo, alguma orientação específica, até mesmo uma promoção passou pela minha cabeça. Poderia ser também a minha demissão, mas não fazia sentido pois eu mantinha boa performance, recebia bons feedbacks, participava das reuniões do board mesmo sem ter esse status, coordenava os projetos mais importantes de “change management”, enfim, fui afastando essa última opção da minha mente, afinal não seria justo.

Passei a ocupar os pensamentos revisando toda a trajetória da gestão desse diretor que promoveu uma grande revolução na empresa. Ele era um profissional reconhecido no setor, líder, de forte presença e atitudes marcantes, ótimos exemplos, simples e direto. Suas reuniões eram impressionantes pela produtividade e soluções definidas além de sempre marcadas por comunicação e ensinamentos de práticas de liderança e gestão. Aprendi muito com ele.

Na noite anterior à nossa conversa eu mal consegui dormir. Acordei muito cedo, me despedi da minha mulher e do meu terceiro filho ainda em gestação, levei minhas duas filhas para o colégio, como sempre fazíamos eu brincava com elas usando como trilha sonora a música tema do filme do Indiana Jones durante o caminho, ajudava a conectar com a missão e a chegarmos bem pilhados e energizados, e fui para a fábrica.

Ao entrar no parque industrial cumprimentei o time da portaria, estacionei o carro e fui direto para a antessala do diretor geral, cheguei uns 15 minutos antes do horário combinado. Conversei com a secretária e ela confirmou na agenda o meu horário e comentou que eu deveria aguardar o meu superior que também participaria da reunião. Pronto, mais minhocas surgiram na cabeça. Pensamentos a mil.

Finalmente, pareceu uma eternidade essa espera, depois de todos chegarem, no horário combinado, fui convidado a me juntar aos dois, gerente e diretor.

Formalidades cumpridas iniciamos a reunião.

Disse o meu gerente: “você tem feito um bom trabalho, mas precisa fazer mais. Precisa colocar em prática tudo o que você aprendeu e pode fazer. Precisa entregar muito mais. “.

Meu pensamento: “...será que eu estava enganado e não estou tão bem assim? Por que será que ele está me colocando essa pressão?” No meu rosto os olhos arregalados, iguais aos da Mônica (personagem dos quadrinhos do Mauricio de Souza). Não sabia o que dizer.

Foi então que o diretor, percebendo a situação, iniciou: “...pois é o que ele quer dizer a você é que, de acordo com o que você definiu como passos de evolução de carreira e tendo passado pelas etapas de preparação que a empresa validou e apoiou, você está sendo promovido a gerente de produção a partir do mês que vem. Imagino que era isso que você queria, certo?”.

Abri um sorriso, confirmei e agradeci muito aos dois pela confiança e disse que eu entendia o tamanho do desafio que seria gerir uma planta fabril muito verticalizada, com inúmeros processos fabris e linhas de montagem, com quase 800 pessoas na produção atuando em três turnos. Belo desafio, pensei eu.

Ocorre que nada vem de graça. Como dizem: não há almoço grátis. O diretor passou a listar o que ele esperava que eu entregasse no novo cargo: “...então meu caro novo gerente de produção, vamos falar do que esperamos de você, anote bem pois teremos que tratar desses itens de forma rotineira, essa já é a sua primeira reunião visando as atividades do seu novo cargo. Vamos lá:

- Eliminar o atraso de produção dos produtos de maior valor agregado e colocar a produção em dia em no máximo 45 dias. (tinham 15 dias de atraso)

- Fazer com que a produtividade em cada setor cresça pelo menos 25% em até 6 meses.

- Manter a produção alinhada com as metas de faturamento diário (ajudava a minimizar os efeitos da inflação)

E por aí foi completando uma lista perto de 10 itens que eram os mais importantes e imediatos para o negócio.

“Completando, você deve preparar um plano de ação e me apresentar daqui 5 dias incluindo aí, suas sugestões e necessidade de investimentos que identifique serem necessários”. Disse o diretor.

“Pode deixar que eu vou tentar.”, eu disse.

“Se é para você só tentar, pode deixar que eu mesmo faço. Eu estou te promovendo é para você fazer acontecer e não apenas para tentar.”, tomei na testa.



Imediatamente me corrigi e disse a ele que eu faria o meu melhor visando inclusive superar todas as metas já colocadas, e esse seria o meu compromisso de vida.

“Agora sim, estou tratando com o profissional que eu quero no meu time, você pode contar comigo e juntos faremos a diferença”. Após essa fala do diretor, fiquei calmo, agradeci mais uma vez pela confiança, cumprimentei os dois firmemente saí já para a missão. E foi assim que me tornei o mais jovem gerente da empresa na ocasião.

Fica aqui a questão: “você vai tentar ou vai fazer acontecer?” para quem ouve faz uma enorme diferença.

Passados 30 anos e essa lição aprendida tem sido compartilhada com todos os times que formei ao longo da carreira.

Você está se perguntando como foi o início no meu novo cargo? Insegurança com o desafio, que percalços tive que superar, como liderei o novo time, se os resultados e metas foram conquistados, enfim, contarei mais nos novos capítulos.


Ronaldo de Carvalho Pinto

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